Publicado primeiro estudo mundial sobre ação do ecstasy no desenvolvimento fetal
Antes e durante a gravidez,96 mulheres foram entrevistadas sobre o uso de várias substâncias ilícitas e seus reflexos no organismo
Um estudo conduzido pela Case Western Reserve University School of Medicine, em colaboração com a University of East London UK, e com a Swansea University UK, é o primeiro a mostrar os efeitos do ecstasy sobre o desenvolvimento fetal e infantil.
Publicado na edição de 28 de fevereiro da Neurotoxicology and Teratology, o estudo mostra que o uso de ecstasy entre as mulheres grávidas afeta a sinalização química que determina o sexo do bebê e que contribui para os atrasos no desenvolvimento dos lactentes.
"Os potenciais efeitos nocivos da exposição ao ecstasy sobre o desenvolvimento pré-natal e infantil têm sido uma preocupação. Os efeitos negativos da droga são particularmente de risco para as mulheres grávidas, porque podem usar a droga sem ter consciência de sua condição", disse Lynn T. Singer, principal pesquisadora do estudo, professora de Ciências de Saúde Ambiental, de pediatria e de psiquiatria na Case Western Reserve University School of Medicine.
As 96 participantes foram recrutadas pelo Drugs and Infancy Study (DAISY), da University of East London (UEL). Antes e durante a gravidez, as mulheres foram entrevistadas sobre o uso de substâncias ilícitas, incluindo o uso de ecstasy. Elas também foram avaliadas quanto aos sintomas psiquiátricos e dificuldades relacionadas ao uso de drogas.
Os pesquisadores compararam bebês expostos ao êxtase a bebês não expostos, do nascimento aos quatro meses de idade, examinando o crescimento dos bebês e eventuais atrasos no desenvolvimento cognitivo; além do tempo necessário para atingir os marcos dos movimentos coordenados e do desenvolvimento motor grosso.
O uso de ecstasy durante a gravidez também pareceu afetar a relação entre bebês do sexo feminino e masculino. Os pesquisadores observaram uma preponderância de nascimentos do sexo masculino entre as mulheres que usaram ecstasy durante a gravidez.
"Os resultados da pesquisa também sugerem que há alguns efeitos neuroquímicos da droga que parecem afetar o funcionamento motor das crianças", disse o professor de psicologia Derek Moore, da University of East London, que coordenou a pesquisa no Reino Unido.
Aos quatro meses, as crianças expostas ao ecstasy demonstraram pior qualidade de movimento coordenado e menor cumprimento dos marcos do desenvolvimento, segundo Moore. Por exemplo, algumas crianças expostas ao ecstasy demoraram mais para equilibrar a cabeça. Outras mostraram atrasos na coordenação mão-olho, para virar-se de lado e para conseguir se sentar com apoio. Condições que poderiam aumentar o potencial de atrasos no desenvolvimento adicional futuro.
"Os problemas psicológicos e psicomotores identificados nestes bebês de quatro meses de idade são muito preocupantes, mas talvez não particularmente surpreendentes. O ecstasy pode esgotar o nível de serotonina, que é um neurotransmissor importante para muitas funções cerebrais, incluindo o controle motor grosso", disse Andy Parrott, professor de psicologia na Swansea University, no País de Gales.
A serotonina carrega impulsos nervosos entre as células, o que regula os estados de humor, o sono e a ansiedade. No início do desenvolvimento fetal, a serotonina desempenha um papel vital na formação do cérebro. A alteração do nível e o comportamento da serotonina pode ter efeito a longo prazo sobre a aprendizagem e a memória.
A nova pesquisa surgiu a partir da investigação em curso de Singer em lactentes de alto risco e dos efeitos que as drogas têm sobre o desenvolvimento fetal e infantil. Ele conheceu o trabalho de Parrott em Swansea, de Moore e de John Turner, principal professor da Faculdade de Psicologia da University of East London, e deu início a este estudo prospectivo para investigar os efeitos potenciais do ecstasy sobre o desenvolvimento subsequente da criança.
O objetivo do estudo é coletar dados até 18 meses após o nascimento de uma criança. Os pesquisadores estão examinando as mesmas mulheres e crianças 12 meses após o parto para avaliar se os atrasos observados no início pioram ou persistem, potencialmente sinalizando o efeito negativo a longo prazo da exposição pré-natal ao êxtase.
Publicação: 29/02/12
Fonte: 29/02/12