A Fibrose Cística (FC), também chamada mucoviscosidose é uma doença genética com acometimento multissistêmico. Decorre de variantes patogênicas em ambos os alelos do gene Regulador de Condutância Transmembrana (Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance Regulator – CFTR), codificador da proteína CFTR, um canal de cloreto e bicarbonato presente na superfície apical das células epiteliais do organismo e que bombeia substratos de forma ativa através das membranas. Existem mais de 2.000 mutações identificadas no gene CFTR, registradas na base de dados Cystic Fibrosis Mutation Database.
Essas mutações são classificadas em seis classes distintas, conforme o tipo de defeito que causam na proteína CFTR, de maior ou menor expressão ou alteração de sua função nas células epiteliais: Classe I (produção): ausência da proteína ou proteína truncada, levando à perda completa ou quase completa da função da proteína CFTR; Classe II (processamento): síntese de uma proteína imatura, com pouca ou nenhuma proteína na membrana apical.Nesta classe, a mutação mais frequente é a Phe508del; Classe III (regulação): a regulação é defeituosa e a proteína não pode ser ativada, apesar de haver expressão de CFTR; Classe IV (condução): a condutância do cloreto é diminuída, apesar de haver síntese e expressão da CFTR, com função residual da proteína na membrana; pode levar a fenótipo de menor gravidade; Classe V (síntese reduzida): síntese da CFTR parcialmente prejudicada, com quantidade reduzida. Podem levar a fenótipo de menor gravidade e Classe VI (degradação acelerada): proteína com instabilidade na membrana apical da célula, com degradação 5 a 6 vezes mais veloz do que a observada com a proteína selvagem.
O quadro clínico de fibrose cística é caracterizado por um espectro de manifestações. Em sua forma grave, as manifestações multissistêmicas são observadas, incluindo doença pulmonar, insuficiência pancreática e outras manifestações gastrointestinais, sinusite crônica, diabetes, entre outros sintomas. Já em quadros mais leves, as manifestações são mais tardias ou observadas em apenas um sistema, tal como a obstrução de ducto deferente em homens com infertilidade, sendo muitas vezes referido como doença relacionada ao CFTR.
O diagnóstico pode ser feito a partir dos sinais ou sintomas descritos acima, presença de história familiar a partir da, mas idealmente deve ser feito na triagem neonatal (teste do pezinho) a partir da dosagem da tripsina imunorreativa (IRT) que se alterada deve ser confirmada pelo teste do suor positivo em duas dosagens independentes. Em seguida recomenda-se o teste genética para detecção das mutações no gene relacionado com a FC, que será muito importante para o estabelecimento do prognóstico, investigação familiar, além de poder orientar a prescrição de medicamentos específicos a depender do genótipo.
Estima-se que existe, em todo o mundo, mais de 105.000 doentes com FC. No Brasil, a incidência está em torno de 1:10.000 de acordo com estimativas da Cystic Fibrosis Foundation, cerca de 70 mil pessoas no mundo apresentam Fibrose Cística. Essa incidência varia de acordo com a região geográfica, e grau de miscigenação populacional.
Atualmente há medicamentos que atuam diretamente no defeito genético da proteína e permitem que o paciente com FC tenha maior expectativa de vida e com mais qualidade, sendo fundamental o acompanhamento por especialistas desde o seu diagnóstico.
Entre 5 a 8 de junho de 2024, acontecerá a 47ª European Cystic Fibrosis Conference, em Glasgow, United Kingdom, onde na ocasião, serão discutidos vários assuntos sobre a Fibrose Cística.
Em 2025, em Salvador, Bahia, ocorrerá o IX Congresso Brasileiro Interdisciplinar de Fibrose Cística, encontro bianual do GBEFC.