O principal transtorno mental avaliado era a esquizofrenia, embora alguns estudos também tenham incluído transtornos afetivos
Estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro avaliou que o risco de malformação congênita é maior em bebês de mães com transtornos mentais, em comparação àqueles de mães sem histórico de problemas psiquiátricos. A probabilidade de a criança ter o problema é maior em 63%.
Para a pesquisa, publicada na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, os pesquisadores realizaram uma revisão estudos sobre a temática a partir de bases de dados bibliográficos, incluindo assim na análise um total de 4.194 crianças de mães com transtornos mentais e 249.548 bebês de mães sem essas enfermidades.
" Estudos sobre os desfechos nas gestações de mulheres com transtornos psicóticos têm mostrado um aumento não só na incidência de malformações como também de complicações obstétricas em geral e mortalidade perinatal entre seus recém-nascidos" , explicam os pesquisadores. Gestantes esquizofrênicas ou com transtornos afetivos apresentaram maiores probabilidades de ter hemorragias, anormalidades placentárias e sofrimento fetal.
" Os mecanismos causais dessa relação ainda são desconhecidos, mas suspeita-se que esse risco possa estar associado à administração de medicamentos antipsicóticos durante a gravidez, ao abuso de substâncias (álcool, tabaco e outras drogas), aos fatores relacionados ao estilo de vida (dieta e cuidado pré-natal insatisfatórios) e às precárias condições socioeconômicas nas quais vivem essas mulheres" .
Para a pesquisa, os estudiosos consultaram, em bases de dados como o PubMed/Medline, Isiweb, Scopus, Lilacs e SciELO, artigos publicados durante dez anos (de 2000 a 2010) em inglês, espanhol e português. A busca resultou em 108 documentos, mas apenas seis se enquadraram em todos os critérios pré-estabelecidos para a análise. Os resultados apontaram que esses seis artigos eram provenientes de países como Suécia, Dinamarca, Austrália e Israel.
Nos documentos analisados, o principal transtorno mental avaliado era a esquizofrenia, embora alguns estudos também tenham incluído transtornos afetivos. " De uma maneira geral, não houve restrição quanto aos tipos de malformações investigadas nos estudos, apenas uma pesquisa avaliou somente malformações no sistema nervoso. Aqueles estudos que estratificam a análise por tipos de malformações encontram maiores frequências de malformações cardiovasculares e de defeitos congênitos fatais entre crianças de mães esquizofrênicas, comparadas às crianças de mães sem transtornos" , comentam os pesquisadores, que ainda acrescentam: " Ainda não há hipóteses plausíveis para a associação da esquizofrenia materna com um ou determinado tipo de malformação" .
" Tendo em vista a escassez de estudos sobre o tema, novas pesquisas são necessárias para aprimorar o conhecimento da prevalência desses transtornos antes e durante a gestação e de sua associação com o risco de malformação e de outras complicações obstétricas, visando fundamentar políticas públicas de saúde materno-infantil, que contemplem novas práticas assistenciais, como a implementação da assistência em saúde mental na atenção pré-natal. Isso permitiria a detecção precoce, adequado tratamento e manejo dessas pacientes e mesmo a prevenção dos transtornos mentais maternos posteriores, minimizando com isso os riscos à saúde da criança" , concluem os pesquisadores.
Publicação: 09/02/12
Fonte: Isaúdenet